Meu marido e eu éramos chamados para dar palestras e testemunho para jovens e adolescentes. Em uma tarde de sábado fomos convidados para falar sobre casamento, partindo de dados que do IBGE que indicavam que homens e mulheres estavam casando mais tarde e também se divorciando mais.
Optamos, naquele momento, por uma abordagem crítica, porém alicerçada na visão que aqueles jovens tinham sobre sua vida, principalmente sobre seu futuro. Fizemos então a famosa pergunta: o que você quer SER daqui a dez anos? Ouvimos respostas das mais variadas: médico, arquiteta, engenheiro, pediatra, advogada... O que já era esperado. Passamos grande parte de nossa juventude ocupados com o que vamos FAZER no futuro e para isso nos preparamos muito. Passamos horas estudando, conversando com pais, amigos e professores, as escolas muitas vezes dispõem de profissionais para auxiliar-nos na orientação vocacional (de minha parte prefiro chamar de orientação profissional).
Houve, no entanto, uma resposta que fugiu dos padrões e abriu caminho para a reflexão que queríamos. Um jovem com quatorze ou quinze anos de idade disse com muita naturalidade: o que eu vou FAZER eu não sei, mas eu quero SER pai!
Todos ficaram quietos e pensativos. Em geral não somos levados a pensar nisso, nem somos preparados para sermos pais e mães pela escola e, muitas vezes, nem pela família. Ouvimos todos os dias o quanto é incômoda a tarefa de criar e educar uma criança. Quando temos quinze anos nos advertem: olha se tiver um filho vai passar noites em claro fazendo mamadeira e trocando fralda, vai perder oportunidades de crescer profissionalmente e vai acabar gorda e descabelada pilotando um fogão com meia dúzia de ranhentos agarrados nas suas pernas, chorando e pedindo comida.
Nossa, isso mais parece o quadro do inferno sem moldura! Enquanto pintam um quadro paradisíaco, ainda que competitivo, relacionado a escolha profissional, para a vida pessoal nos dizem que temos de esperar ao máximo sob pena de pura infelicidade e tormentos eternos!
Como fugir disso? Simples: refletindo!
A vida profissional não é um mar de rosas e não podemos colocar nossa esperança de futuro nisso. Não estou dizendo que não seja importante se preparar e se planejar para o futuro profissional. Apenas quero lembrar que você não pode congelar o seu próprio SER esperando que todo o restante dê certo; para depois, se sobrar tempo e vitalidade, você investir na família.
Tive meu primeiro filho com vinte e sete anos, estava concluindo a faculdade. Fiz meu TCC amamentando, meu marido tinha de me acompanhar nas entrevistas para cuidar do Pedro Javier. Meu filho esteve na minha formatura. Não abri mão de tudo para ter um filho, só não abri mão de SER mãe para ter todo o resto.