terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ser ou Fazer: eis a questão!

Meu marido e eu éramos chamados para dar palestras e testemunho para jovens e adolescentes. Em uma tarde de sábado fomos convidados para falar sobre casamento, partindo de dados que do IBGE que indicavam que homens e mulheres estavam casando mais tarde e também se divorciando mais.

Optamos, naquele momento, por uma abordagem crítica, porém alicerçada na visão que aqueles jovens tinham sobre sua vida, principalmente sobre seu futuro. Fizemos então a famosa pergunta: o que você quer SER daqui a dez anos? Ouvimos respostas das mais variadas: médico, arquiteta, engenheiro, pediatra, advogada... O que já era esperado. Passamos grande parte de nossa juventude ocupados com o que vamos FAZER no futuro e para isso nos preparamos muito. Passamos horas estudando, conversando com pais, amigos e professores, as escolas muitas vezes dispõem de profissionais para auxiliar-nos na orientação vocacional (de minha parte prefiro chamar de orientação profissional).

Houve, no entanto, uma resposta que fugiu dos padrões e abriu caminho para a reflexão que queríamos. Um jovem com quatorze ou quinze anos de idade disse com muita naturalidade: o que eu vou FAZER eu não sei, mas eu quero SER pai!

Todos ficaram quietos e pensativos. Em geral não somos levados a pensar nisso, nem somos preparados para sermos pais e mães pela escola e, muitas vezes, nem pela família. Ouvimos todos os dias o quanto é incômoda a tarefa de criar e educar uma criança. Quando temos quinze anos nos advertem: olha se tiver um filho vai passar noites em claro fazendo mamadeira e trocando fralda, vai perder oportunidades de crescer profissionalmente e vai acabar gorda e descabelada pilotando um fogão com meia dúzia de ranhentos agarrados nas suas pernas, chorando e pedindo comida.

Nossa, isso mais parece o quadro do inferno sem moldura! Enquanto pintam um quadro paradisíaco, ainda que competitivo, relacionado a escolha profissional, para a vida pessoal nos dizem que temos de esperar ao máximo sob pena de pura infelicidade e tormentos eternos!

Como fugir disso? Simples: refletindo!

A vida profissional não é um mar de rosas e não podemos colocar nossa esperança de futuro nisso. Não estou dizendo que não seja importante se preparar e se planejar para o futuro profissional. Apenas quero lembrar que você não pode congelar o seu próprio SER esperando que todo o restante dê certo; para depois, se sobrar tempo e vitalidade, você investir na família.

Tive meu primeiro filho com vinte e sete anos, estava concluindo a faculdade. Fiz meu TCC amamentando, meu marido tinha de me acompanhar nas entrevistas para cuidar do Pedro Javier. Meu filho esteve na minha formatura. Não abri mão de tudo para ter um filho, só não abri mão de SER mãe para ter todo o resto.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Maternidade: entre a realização e a culpa

A culpa parece ser o sentimento mais comum na modernidade. Já disse nesse blog que pode parecer um contrassenso, visto que o hedonismo apregoado e cultuado nos dias atuais pressupõe uma consciência acomodada, ou seja, livre de princípios que possam atentar contra a regra básica: seja feliz! Entenda o seja feliz por: curta a vida, aproveite bem as benesses e livre-se dos incômodos.


No entanto, essa mesma sociedade nos cobra muito, espera de nós determinadas atitudes. No caso das mulheres: tenha uma carreira, ganhe seu dinheiro, seja independente economicamente, tenha sua casa, seu carro, faça faculdade, mestrado e doutorado. Para que isso ocorra use toda a força da sua juventude!

O que ocorre é que nessa busca nos deparamos com nossos anseios e com nosso próprio ser. Também encontramos outras histórias e outras pessoas que mudam a nossa história, a nossa trajetória. É aqui que começa o sofrimento: como conciliar tudo o que eu sempre pensei ser O importante, tudo o que esperam de mim e ainda incluir novas prioridades? E mais, como incluir o que realmente importa, aquilo que de fato me realiza?

Bem, vamos conversar um pouco sobre isso, vamos tratar de encontrar meios de reformular nossas prioridades e de nos realizarmos enquanto mulheres. E faremos isso de modo pleno, preservando nossa essência, quanto mais conhecermos o ambiente que nos cerca e nossa própria condição de mulher no mundo.

Nas próximas postagens vamos iniciar falando sobre maternidade e trabalho.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Retornando...

Caríssimos leitores, estive afastada por longo período. Nos mudamos do Rio Grando do Sul para o Distrito Federal, algo muito difícil para os pequenos que tiveram de deixar os amigos, a escola, as professoras e todos os "tios" e "tias" que haviam conquistado em quase três anos de Pelotas. É verdade que nada disso se perde, pois cada uma dessas pessoas marcaram nossas vidas e são recordadas pelos meus filhos de forma muito carinhosa.

As crianças têm um jeito muito simples de lidar com as ausências: elas contam histórias e fazem perguntas. Por vezes chega a ser desconcertante a pureza com que vêm a vida. Meu filho, Pedro Javier, de quatro anos, sempre pergunta: mamãe a Catarina ainda é minha amiga, não é? Ao que eu repondo: claro! Meu filho, a Catarina é tua amiga! Ele abre um sorriso tão sincero que ilumina o ambiente. Já a Miriam, de dois anos, ficou muito impressionada por ter acompanhado a gravidez da tia "Andréa", mas não conheceu o José Francisco, que nasceu na semana seguinte a nossa mudança. Tudo o que acontece de muito diferente ela diz: Foi o "Jujé Fuxico", né mãe?

Sei que pode parecre muito difícil essa situação, longe da família tudo fica mais complicado, porém aprendemos muito mais uns com os outros. Temos de resolver tudo e aprendemos a apoiar-nos mutuamente. A coisa que realmente me alimenta afetiva e efetivamente todos os dias é ver o brilho nos olhos dos meus filhos. Vejo que eles são felizes não por estarmos aqui ou ali, mas porque estamos juntos!

Por ora é isso que queria partilhar com vocês.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Quando ou Como?


Maternidade não é um momento na vida da mulher. A maternidade precisa ser encarada de forma abrangente para ser efetiva, ou seja, é necessário vivê-la muito antes do nascimento dos filhos. Somos mães porque somos mulheres, a natureza de nossas relações é maternal! Desde a forma como nos comunicamos com o mundo até o modo cuidadoso como escolhemos uma roupa ou mesmo nossa profissão. Do modo como cuidamos de nossos irmãos ou amigos até como sorrimos para um novo dia!
Então por que nos preocupamos tanto com o quando? Por que essa questão nos atormenta?
Simples. Porque na cultura ocidental contemporânea aprendemos a nos ver de modo segmentado. Tudo é tão abstrato que vivemos como se pudéssemos nos compartimentar, como se pudéssemos congelar determinadas características para apenas despertá-las quando for mais conveniente aos nossos interesses ou quando não pudermos mais adiar o confronto com elas.
A pergunta fundamental é como vamos viver a nossa maternidade. Desde muito pequenas nós fazemos isso, só precisamos tornar nossos gestos conscientes sem fazer disso uma pedra de tropeço. Precisamos nos aceitar e viver a cada dia como realmente somos: mulheres!
Viver a maternidade não é ter um filho. Porém podemos afirmar sem rodeios de que a mãe que seremos para nossos filhos depende da mulher que somos em todos os âmbitos muito antes de que pensemos em ter um filho.